sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Lagoa Mirim

A responsabilidade binacional sobre a Bacia da Lagoa Mirim

O ambiente característico da Bacia Binacional da Lagoa Mirim, habitada hoje por uma população de origem e cultura comuns, chegou à nossa geração ainda razoavelmente preservado. Deve-se isto à baixa densidade demográfica da região, à ausência de grandes concentrações populacionais (a cidade de Pelotas é o maior núcleo urbano) e, também, à característica da atividade econômica regional. A economia é baseada, principalmente, na agricultura e na pecuária, sendo poucas as indústrias localizadas nesta região.
Até o presente, os principais agentes transformadores da paisagem natural, trazidos pela ação humana, foram a pecuária, a agricultura (especialmente o cultivo de arroz irrigado) e algumas obras de infra-estrutura. As maiores interferências no sistema natural provavelmente tenham sido a drenagem de banhados e a construção da Barragem Eclusa do Canal de São Gonçalo, fatos que atingiram sèriamente as características e o ciclo hidrológico da Lagoa Mirim.
Sobre alguns destes fatores ainda é possível agir, através do aprimoramento dos sistemas produtivos, tendo como foco o fato de a Lagoa Mirim possuir, para Brasil e Uruguai, uma importância bem maior do que a de um simples reservatório de água para irrigação. Para embasar a transformação dos sistemas produtivos possuímos, felizmente, suficiente autonomia de conhecimento em nossa região, não sendo necessário importar projetos, técnicos e tecnologias de países distantes de nossa realidade.
A nossa sociedade evoluiu com o decorrer do tempo, grandes perturbações no ambiente não são hoje mais aceitas pela maioria dos produtores da região e pela população, em geral.
O perigo atual que ronda este frágil e especialíssimo ambiente vem de fora, de grupos que vêm nossa região somente como substrato para suas atividades econômicas. Divorciados de nossa região, não apresentam nenhum vínculo sólido com nossa sociedade. Assim como chegam, de repente, partem também repentinamente, quando seus interesses econômicos determinam.
Estes grupos trazem consigo um forte poder de sedução – o dinheiro. Sob a força desse poder de convencimento, cedem certas consciências, infelizmente, algumas delas, alojadas em órgãos importantes de representação do interesse público.
Nos últimos anos extensas florestas industriais foram implantadas na área brasileira da Bacia da Lagoa Mirim, fato que na área uruguaia já se verificara há mais tempo. Destinam-se essas plantações a alimentar grandes plantas industriais, produtoras de celulose para exportação, indústrias estas que usam cursos d`água como fonte e descarga de seu processo industrial, gerando comprometimento do equilíbrio ambiental.
O risco maior está no local previsto para instalação dessas processadoras de madeira - as águas da Bacia da Lagoa Mirim, ao norte (no lado brasileiro) no Canal de São Gonçalo e, ao sul (no lado uruguaio), no Rio Cebollaty.
Este perigo iminente deve motivar Brasil e Uruguai a dar maior atenção ao gerenciamento conjunto da Bacia Binacional. Para tanto é necessário reforçar a estrutura da Comissão Mista da Bacia da Lagoa Mirim, conferindo-lhe poder, autonomia e recursos necessários para que sua ação binacional conjunta se efetive igualmente sobre toda esta região trans-fronteiriça, independentemente da linha divisória que demarca a fronteira política.